Opiniões

Pontos de inflexão à vista

A próxima quinzena promete ser “interessante” na política econômica, há alguns pontos de inflexão à vista, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.

É que seus respectivos bancos centrais se reúnem em 30 de abril e 1º de maio, o FOMC, do Federal Reserve americano e, em 7 e 8 de maio, o COPOM brasileiro, ambos para decidir sobre a nova fixação da taxa de juros da economia.

Ocorre que a taxa de juros americana, além naturalmente de afetar a economia de lá, influencia a economia mundial e a brasileira em particular pela força da referência do dólar. A tendência natural é esperar uma valorização do dólar frente ao real com as taxas de juros americanas em nível mais elevado. Grande parte dos produtos consumidos pelos brasileiros, os tradables ou comercializáveis internacionalmente, como petróleo, proteínas e trigo, tem esta referência, que pesa inevitavelmente no custo de transportes e alimentação, para citar somente alguns.

As recentes altas das tensões geopolíticas no Oriente Médio em consonância ao dinamismo resistente da economia norte-americana corroboram o fortalecimento do dólar nas últimas semanas. Nesse contexto, é ressaltada a expectativa dos mercados para a manutenção do atual nível de juros no FOMC, enquanto investidores mais radicais acreditam até mesmo em um novo aumento na taxa de referência.

Nos EUA, a meta de inflação perseguida pelas autoridades monetárias, há muitos anos, é atingir 2,00% ao ano e, no Brasil, a meta tem sido variável, estando atualmente em 3,00%, com um intervalo de 1,50 pontos percentuais, ou seja, um mínimo de 1,50% e um máximo de 4,50%.

A inflação americana, nos doze meses findos em março de 2024 aparentemente estabilizou em cerca de 3,5% a.a., não obstante os seguidos aumentos das taxas de juros da economia para “esfriar” as atividades, mas ainda assim não se observa a curva inflacionária se inclinar para os 2,00% desejados.

No Brasil, a taxa de inflação nos doze meses findos em março de 2024 foi de 3,93%, ainda abaixo do teto da meta de 4,50%, mas com fatos supervenientes preocupantes:

  • O primeiro é, justamente, a resistência da inflação americana e a alta da taxa de câmbio para o intervalo R$ 5,15-5,25 atuais, enquanto a expectativa era de ficar abaixo, ou, no máximo, em R$ 5,00;
  • O segundo fator preocupante é o governo federal ter declarado que as metas de equilíbrio do arcabouço fiscal ficariam postergadas para o próximo governo e as insistentes críticas de que despesas com educação, saúde e programas sociais são consideradas “gastos”, mas poderiam ser computados como investimento.

As discussões envolvem o nível de desemprego nos EUA e no Brasil, que estão nos valores muito baixos consideradas as respectivas séries históricas: 3,9% e 7,8% respectivamente.

Para um observador desavisado, nada melhor do que um nível baixo de desemprego, que é considerado como a ferramenta mais forte para melhorar o nível de renda, consumo e satisfação dos governados. Mas só os economistas têm a obrigação de entender que, abaixo de um certo patamar, esta situação favorável pode ocasionar um aumento de preços na economia, já que a oferta de produtos e serviços em geral não acompanha tão rapidamente a demanda mais aquecida.

Neste quadro, os economistas têm tentado descobrir qual é a NAIRU – Non-Accelerating Inflation Rate of Unemployment, que pode ser traduzido livremente como “Taxa de Desemprego Não Aceleradora da Inflação”, que surgiu a partir de um conceito proposto pelo economista Edmund Phelps. Trata-se de um conceito abstrato, a taxa de desemprego mais baixa que pode ser sustentada sem provocar o crescimento dos salários e a subida da inflação.

Ocorre que a economia não é ciência exata, não estamos num laboratório de química ou física para testar combinações de materiais ou vetores, já que as decisões de política econômica estão na realidade e na prática de todos os cidadãos.

Como teria dito Albert Einstein (1879-1955), é insano continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes: não adiante querer renomear “gastos” como “investimentos”, pois a dívida pública continuará a crescer de forma desproporcional ao PIB. Se temíamos as falas de improviso dos nossos governantes, é preciso ficar atento e diferenciar o que é plano de governo de fato ou estratégia eleitoreira.

Em 2025, fora um milagre, a se manter o curso atual, o Brasil registrará o 10º aniversário da perda do conceito de “grau de investimento” das agências de rating internacional, o que faz com que o mercado olhe para o Brasil com desconfiança suficiente para não gerar investimentos em escala mais ampliada.

Há, portanto, duas formas de estimular a economia:

  • Gastando mais e mal, renomeando gastos verdadeiros como “investimentos” e com a dívida pública crescente e fora de controle; o fôlego da iniciativa é curto, já que as pedaladas fiscais e maquiagem podem resultar em impeachment;
  • Procurando o equilíbrio fiscal, diminuindo a dívida e refazendo o caminho para merecer outra vez o “grau de investimento”, para promover um crescimento sustentável e duradouro sem inflação;

A primeira opção, entretanto, seduz os governantes pelos efeitos eleitorais imediatos, embora promova recessão como no triste período 2015-2017.

Aos eleitores, a decisão.