Opiniões

Plano Campos Neto

Os mais jovens não têm ideia do que foi a sequência de planos de estabilização monetária no Brasil, demonstrados no quadro seguinte:

Apesar das diversas iniciativas, é evidente que somente a última delas, o Plano Real, funcionou de fato, e ainda que estejamos nos aproximando do seu aniversário de 30 anos, na prática, o plano de Fernando Henrique Cardoso vigora até os dias de hoje.

Por que ainda estamos nele? Está em curso o sistema de metas de inflação, pelo qual o Conselho Monetário Nacional, constituído pelos Ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do Banco Central, estabelecem metas inflacionárias, de modo que o Comitê de Política Monetária – COPOM – tem a missão de atingir os valores estabelecidos, principalmente fazendo variar as taxas básicas de juros da economia. A decisão do Banco Central pode ser resumida em: inflação alta, juros altos para desaquecer a economia; inflação baixa, juros baixos para estimular a economia e voltar para os intervalos das metas.

É claro que este é um resumo simplificado, que não revela a complexidade da questão. Mas, sem querer abusar das metáforas de futebol, o jogo tem muito mais emoção do que a descrição de 22 jogadores correndo atrás de uma bola para fazê-la ultrapassar as traves no final de cada lado do campo, durante dois tempos de 45 minutos cada, sujeito a acréscimos.

O presidente do Banco Central tem sido atacado pelo executivo, até pessoalmente. Os políticos dizem que ele ou não entende de Brasil, ou ainda que talvez não seja brasileiro, e que não possui a percepção do sofrimento do povo que, almejando um cardápio prometido de picanha e cerveja, não tem conseguido o essencial, seja pela “carestia dos preços” ou pela falta de emprego razoável e digno, já que o subemprego é uma forma não aceitável na declaração dos direitos do homem.

O presidente da República faz o Banco Central de culpado, tendo em vista que é sempre melhor apontar o dedo do que o autorreconhecimento. Em recente visita à África do Sul para a reunião dos BRICS, o presidente da República fez um ataque ao FMI, discurso da esquerda de 40 anos atrás, sem se lembrar que o Brasil está livre do controle do FMI há décadas, mas enfim, ele se referiu à Argentina, já que o dedo apontado faz parte do populismo vigente.

Neste momento, temos a proposta de restauração da credibilidade da ex-presidenta, que controlava o Banco Central e fez as taxas de juros despencarem, causando inflação, que tentou controlar com o congelamento das tarifas de combustíveis e energia elétrica, e assim tivemos dois anos de recessão, que em termos de desempenho econômico geral foram piores do que a pandemia viral. Já vimos o filme, conhecemos o final, e nós como plateia sabemos que não há mocinho que se salve.

Como descrevemos acima, os “planos de estabilização” tinham altíssimo custo social, além de muitas vezes serem intervenções improdutivas na economia. Neste caso, também estamos falando das repetidas frustrações da população, congelamento de preços e confisco dos depósitos em conta corrente, desde a poupança popular mais simples do homem comum, até os ativos financeiros sofisticados, que foram parcialmente devolvidos a conta-gotas, com prejuízo graves em muitos casos.

Lembro pessoalmente muito bem que a cada novo “plano de estabilização”, à época como executivo de finanças de empresas, chegava ao escritório e logo pedia o memorando interno de instruções do plano anterior, para adaptá-lo às novas tablitas de reajustes de contas a receber e contas a pagar da empresa. Extremamente frustrante, só quem viveu a hiperinflação sabe do que estamos falando. Livros de história econômica não transmitem a sensação de insegurança, desalento e preocupação.

Neste momento, sabemos que os custos das taxas de juros altas existem, mas estamos seguindo exemplos de política monetária de primeiro mundo, já que vizinhos heterodoxos e irresponsáveis como Argentina e Venezuela ainda estão na fase de “planos miraculosos”.

Queixar-se do presente sem entender o processo é perigoso, basta voltar um pouco no tempo, ver nossos planos de estabilização no passado e quanto custaram, ou ainda fazer um passeio aos nossos vizinhos fronteiriços, que aliás, têm o curioso apoio do governo, deitado em berço esplêndido no Palácio da Alvorada até 31 de dezembro de 2026.