Opiniões

Futuro reluzente

O Banco Central, em sua última reunião realizada ontem, resolveu manter a taxa básica de juros entre 0,0% a.a., a 0,25% a.a., nos níveis mais baixos da história, tendo em vista que a inflação futura não é preocupante e que o desemprego ainda é alto por conta da pandemia. Como se sabe, a instituição monetária trabalha na gangorra entre controlar a inflação e combater o desemprego, o chamado mandato duplo, mirando em seu radar, variáveis que, em tese, são opostas.

Esclareceu, ainda, que a pandemia da COVID-19 continua causando enormes dificuldades humanas e econômicas no país e em todo o mundo. Após uma moderação do ritmo de recuperação, os indicadores de atividade econômica e de emprego voltaram a subir recentemente, embora os setores mais afetados pela pandemia continuem fracos, enquanto outros florescem. A inflação continua abaixo de 2%. As condições financeiras gerais permanecem acomodatícias, no sentido de oferecer muita liquidez ao mercado, em parte refletindo medidas de política para apoiar a economia e o fluxo de crédito para famílias e empresas.

Adicionalmente, as perspectivas de crescimento são bastante promissoras: o PIB – Produto Interno Bruto crescerá 6,5% em 2021, 3,3 % em 2022 e 2,2% em 2023 e, na estimativa de longo prazo, além de 2023, 1,8% em média. Já a taxa de desemprego deverá cair em 2021 para 4,5%, e subsequentemente para 3,9% em 2022, 3,5% em 2022 e a longo prazo deve ficar em 4,0%. A inflação ficará em 2,4% em 2021, um pouco mais alta neste momento cíclico, e daí por diante em torno de 2,0%, dentro do que sempre se espera da meta do Banco Central.

Ah, sim, desculpe, ainda em tempo de esclarecer, estamos descrevendo as medidas do Banco Central americano, o Federal Reserve que, rapidamente, já reflete as iniciativas do governo Biden, de forte apoio emergencial à sociedade, – cheques de US$ 1400,00 para a população –, além de vacinação que deverá completar seu ciclo em maio próximo; Joseph Biden espera que no dia 4 de julho, comemoração da Independência, as famílias já poderão estar reunidas sem maior perigo de contaminação.

Já em Brasília, o também Banco Central, coincidentemente na mesma data, decidiu aumentar as taxas de juros para 2,75% a.a., haja vista a inflação estar atingindo 5,2% nos últimos doze meses e o desemprego estar no máximo de 13,5% em 2020. Ocorre que o mais grave problema do país neste momento é a pandemia descontrolada, muito ao contrário dos EUA agora na “onda azul democrata”, seja por conta de contrariar a ciência nas medidas recomendadas de proteção como distanciamento social, uso de máscaras e, mais grave, o descompasso do país com o resto do planeta em obter, produzir e aplicar vacinas, o que nos coloca na “segunda divisão” do reconhecimento mundial e a nossa autoestima nos subterrâneos da ignorância.

Na prática, o Banco Central brasileiro não podia fazer diferente, já que a inflação medida pelo IPCA atingiu 5,2% nos últimos 12 meses e o mercado prevê 4,6% para 2021 e 3,5% para 2022. A nova taxa SELIC de 2,75% para o poupador comum, ainda representará uma perda real de cerca de 2,0%, descontado o infalível imposto de renda na fonte. Mas o Banco Central anda a passos lentos, em maio espera-se por um novo aumento de 0,75%, e no final de 2021 a taxa básica deve alcançar, pelas projeções, entre 4,50% e 5%. Com isso o Banco Central tenta controlar também a cotação R$/US$, que alavancou o IGP-M para um aumento de 30% nos últimos doze meses; assim, finalmente o IBGE está se encontrando aos poucos com a FGV, as duas instituições que concorrem para medir a inflação. A taxa de câmbio cada vez afeta mais a cesta de consumo dos brasileiros, ainda mais com os preços de commodities internacionalmente em ascensão como petróleo, minério de ferro, borracha, etc. É como jogar álcool 70% na fogueira da inflação.

Mas nosso segundo semestre de 2021 ainda poderá ser bom, estamos de joelhos e mãos em prece para os novos santos Pfizer, AstraZeneca, Johnson&Johnson, BioNTech, Fiocruz, Butantã e na disposição do governo para negociar e articular a saída, todos mais poderosos do que nosso Banco Central neste momento. O governo federal poderá fazer isso pelo bem, pela saúde do povo, ou pelo mal, de olhos na cobiçada reeleição, pois os olhos dos eleitores estão se abrindo e o índice de rejeição vem subindo e nada está garantido para 2022.