Opiniões

As Contribuições de Claudia Goldin para a Economia

A economista norte-americana Claudia Goldin recebeu este ano o Prêmio do Banco da Suécia para as Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel, que como o próprio título indica é concedido pelo Banco Central sueco e não pela fundação Nobel, como usualmente se supõe, a qual concede os prêmios de literatura, medicina, física, química e atuação pela paz. Apesar disto, o processo de escolha do prêmio do Banco Central sueco é semelhante ao processo da fundação Nobel, e o prêmio do Banco da Suécia é a distinção de maior prestígio entre os economistas.
A carreira de Goldin já era brilhante, antes mesmo do prêmio. Nascida em Nova York em 1946, iniciou sua carreira universitária em microbiologia, mas após assistir aulas com Alfred E. Kahn (1917-2010), o decano da economia da regulação de serviços públicos na Universidade de Cornell, ela escolheu se dedicar ao estudo da economia, em particular de Economia Industrial (conhecida nos Estados Unidos como Organização Industrial), que estuda setores da economia (em contraste com a Macroeconomia, que estuda a economia como um todo, ou seja, inflação, produto interno bruto etc.). Atualmente, Goldin é professora de Harvard.

A imprensa tem destacado a importância do trabalho de Goldin para a análise dos obstáculos que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho. Em sua contribuição ao tema, destaca-se o livro Career and Family: Women’s Century-Long Journey Toward Equity (Carreira e Família: a Jornada Secular das Mulheres Rumo à Igualdade, Princeton University Press, 2021) onde Goldin mostra como mulheres pioneiras foram abrindo caminho no mercado de trabalho, a partir dos avanços de gerações anteriores.
Um dos argumentos centrais do livro é o de que diferenças nas remunerações das mulheres em relação aos homens não são o resultado exclusivo de discriminação de gênero. Um fator que também contribui de forma importante para diferenças nas remunerações entre gêneros é o fato de que as mulheres têm de dividir seu tempo entre o trabalho e a família. Com isto, os homens acabam trabalhando mais horas do que as mulheres, e o mercado de trabalho paga um prêmio a quem aceita trabalhar por mais horas.
Se o casal decide assumir equitativamente o tempo necessário para cuidar da família, as perdas para ambos são significativas, pois renunciam a possuir um membro da família com rendimento elevado, capaz de atender às demandas de flexibilidade, continuidade e especialização típicas dos empregos com remuneração elevada. Toda esta argumentação é desenvolvida por Goldin com base em análises quantitativas, com a aplicação de técnicas de análise estatística.

Contudo, a contribuição de Claudia Goldin não se esgota na questão do diferencial de remuneração das mulheres, mas avança também na relação entre emprego e tecnologia, uma parte anterior de seu trabalho que não vem sendo muito abordada pela imprensa. Esta contribuição se destaca no livro publicado anteriormente por Goldin, em coautoria com Lawrence F. Katz, intitulado The Race Between Education and Technology (A Corrida entre Educação e Tecnologia, Belknap Press, publicado em 2008).
O livro parte de uma avaliação histórica para afirmar que, desde o século passado, o crescimento econômico passou a depender da combinação de tecnologia com mão de obra, esta última dotada de um nível de educação suficiente para operar as novas tecnologias. Por sinal, uma das virtudes do livro (nem sempre comum nas contribuições dos economistas) é a combinação de interpretação histórica, análise quantitativa e propostas de política.

Historicamente, Goldin e Katz destacam que os Estados Unidos já possuíam a juventude mais escolarizada no mundo em meados do século XIX, graças ao que chama de “revolução no ensino básico”. Com o progresso técnico, viria na primeira metade do século XX a revolução no ensino médio (high school). A partir de meados do século XX, seria a vez da revolução no ensino superior, com a simultânea expansão quantitativa e qualitativa das vagas neste segmento.

Estas sucessivas revoluções nos diferentes níveis de ensino teriam capacitado os Estados Unidos a competir na corrida entre a educação, que determina a oferta de mão de obra capacitada e as mudanças tecnológicas, que determinam a demanda pelas empresas por mão de obra com capacitação cada vez mais elevada. Um aspecto interessante do livro é justamente o destaque dado a esta “corrida”, onde os Estados Unidos foram vitoriosos nos séculos XIX e XX.

A importância das contribuições de Claudia Goldin é indiscutível.