Opiniões

Cisne Negro x Cisne Branco

A expressão “cisne negro” teria aparecido primeiro em texto do poeta romano Décimo Juvenal, no século II, como sendo uma ave inexistente, pois até então só se conheciam cisnes brancos; até que, numa expedição holandesa à Austrália em 1697, finalmente foi encontrado um cisne negro, mas o conceito de raridade e de improbabilidade ficou.

Este conceito foi posteriormente retomado e mais difundido em 2007 pelo matemático e financista Nassim Taleb que, além de professor, é também gestor de sucesso em fundos de investimentos de Wall Street.

Os fenômenos “cisne negro” teriam as seguintes características:

  • Estão fora das expectativas normais, porque nada no passado poderia apontar de forma convincente para sua ocorrência futura;
  • Causam um impacto extremo;
  • Finalmente, apesar de seu status atípico, a natureza humana nos faz “inventar explicações” para seu surgimento após o fato, tornando-a explicável e previsível.

Como exemplo destes fenômenos estariam a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o surgimento do primeiro microcomputador pessoal, a difusão da Internet, o fim da União Soviética e o ataque às torres gêmeas em 2001. Menos imprevisível – talvez um “cisne cinza” foi a crise de 2008, dos sub-primes nos EUA, quando financiamentos imobiliários eram concedidos sem análise de crédito e deu no que deu, a quebra do banco Lehman Brothers e o colapso geral do sistema financeiro.

É claro que a rápida propagação do “novo corona vírus” é “o” fenômeno cisne negro; embora outros vírus deste tipo fossem conhecidos, não seria de se supor que com o enorme avanço da medicina, alguma doença nos atacasse em 2020 de forma tão rápida e fortemente como na Peste Negra da Idade Média e a Gripe Espanhola de 1918.

E não só a saúde humana é acometida, mas o contágio econômico do vírus destrói empregos, empresas, a vida afetiva, social e cultural. Mas felizmente a ciência prevaleceu e alguns países já começaram a vacinação ou estão com o processo adiantado, observando que não só os países do primeiro mundo, em tese mais perto dos fabricantes das vacinas, mas até pequenos países latino americanos estão progredindo nas medidas.

E no Brasil? Aí começamos a ver como, por oposição ao cisne negro, certamente existe o cisne branco, que todos conhecem. A vacinação no Brasil para outras doenças e, até mesmo, para gripes anteriores, tem sido bem-sucedida, um “cisne branco” previsível e que não apresenta desafios.

Ocorre que o Governo Federal colocou o Brasil na segunda pior posição mundial de incidência do covid-19, somente atrás dos EUA, dois governos que se negaram a reconhecer a crise e, ao contrário das prevenções, chegaram até mesmo a incentivar aglomerações, ao deboche em relação aos doentes e insinuar que máscaras de proteção são ridículas.

E como se já não bastasse este conjunto de atitudes, que podem ser elegíveis à crime contra a humanidade, agora o general posto no Ministério da Saúde retarda por motivos ideológicos ou de ineficiência, a vacinação em massa, justificando a demora pela necessidade de aprovações burocráticas nacionalistas ou outros motivos ainda inconfessáveis. Em época de emergência, se agências de vigilância sanitária de diversos países responsáveis já vem aprovando a vacina, por que esperar pelo reconhecimento tupiniquim? Vamos levantar nossas preces para que as luzes das quatro estrelas dos generais de plantão na saúde iluminem estes caminhos e não se cometa mais um crime contra a humanidade e não sejam apenas reflexos da obscuridade que vem do Planalto.

Se conseguirmos um plano de vacinação veloz, teremos um efeito favorável na economia e uma perspectiva de regularização e, enfim, poderemos prever que em meados de 2021 estejamos mais confiantes. Se há um consenso que a pandemia é um problema para a economia, a vacina é a solução. Imunizar a população vai trazer, além da saúde, renda e emprego, mais do que compensando os custos da campanha de vacinação.